Por que o brasileiro tem medo de investir

O medo de investir no Brasil não é irracional. Ele é histórico.

Allan Ruas | oikonomy

12/31/20251 min read

person stretching their hands
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O medo de investir no Brasil não é irracional.
Ele é histórico.

Ao longo do século XX, o brasileiro aprendeu que confiar no sistema financeiro podia custar tudo. A inflação crônica dos anos 1980 corroía salários em questão de semanas. Guardar dinheiro não era prudência, era perda certa. Em 1990, o Plano Collor congelou a poupança de milhões de pessoas, rompendo definitivamente a confiança entre o cidadão comum e qualquer promessa de segurança financeira.

Esses eventos não ficaram no passado apenas como fatos econômicos. Eles ficaram como memória coletiva.

A economia comportamental mostra que experiências traumáticas moldam decisões futuras. O medo não nasce do cálculo racional, mas da lembrança do risco extremo. No Brasil, investir passou a ser associado a confisco, instabilidade e engano. Não investir parecia mais seguro.

Há também um segundo fator estrutural. Durante décadas, o mercado financeiro foi comunicado como algo distante, técnico e elitizado. Investir virou sinônimo de especular, não de proteger patrimônio. O pequeno poupador nunca foi educado para pensar em juros reais, horizonte de tempo ou preservação do poder de compra.

O resultado é um paradoxo.
O brasileiro teme investir, mas aceita perder dinheiro parado.
O risco visível assusta mais do que a perda silenciosa.

Esse comportamento não é fruto de ignorância individual. Ele é consequência de um país que conviveu por muito tempo com instabilidade institucional e ausência de educação financeira básica.

O medo só começa a diminuir quando o investimento deixa de ser apresentado como aposta e passa a ser compreendido como estratégia de longo prazo, baseada em previsibilidade, regras claras e proteção contra o próprio histórico inflacionário.

Entender de onde vem o medo não é fraqueza.
É o primeiro passo para não continuar refém dele.